
Cordão Umbilical
A energia da primavera vibra em todas as células do meu Ser, toca-me nas profundezas e permite-me renascer a cada ano. Hoje, sinto o Sol a acariciar a minha pele, suavemente, apenas fazendo-me sentir a sua presença, como quem diz, estou aqui para ti. Sinto o Vento a afagar-me os cabelos, que dançam livremente.
Sinto o aroma doce das flores da laranjeira. Fecho os olhos e sinto. Estou presente. Sinto o vigor da vida que brota de cada árvore, de cada folha, de cada flor que se abre ao mundo.
Aquela pequena parte do meu coração que vive fora do meu corpo, a minha filha, vem ao meu encontro. Senta-se ao meu lado. Embora eu tenha os olhos fechados sinto o seu sorriso. Sinto o calor do seu corpo.
Aos poucos, com ternura, vai-se aproximando mais de mim, mais e mais até que, sem que eu me dê conta, instala-se no meu colo. Encaixa-se com mestria entre as minhas pernas enraizadas e repousa no meu peito.
Naquele instante, sou invadida por uma sensação de puro amor, numa inteireza e plenitude sem limite. O tempo parou para nós! Sinto a nossa conexão, aquela que as mães não perdem com o corte do cordão umbilical. Num silêncio profundo, numa quietude que vem de dentro, naquele momento, os nossos Seres formam um só corpo.
O seu corpo meigo e suave impregna-se no meu. Sinto-a de novo em mim! O meu bebé, o pequeno ser que conduzi a esta vida. Viajei até ao período da sua gestação. O tempo continua docemente parado para nós. Não há tempo, não há espaço, apenas sinto a nossa união em amor.
A viagem não foi só minha. Ela viajou também comigo e quebra o silêncio com a sua doce voz:
Como é que eu cabia na tua barriga?
As suas palavras ficaram a ressoar no vazio de todas as coisas. E assim permaneceram.
Não haverá, ainda, palavras criadas neste Mundo, que me permitam expressar a beleza e grandeza daquele momento de entrega, de cumplicidade e de puro Amor.
O tempo retomou o seu curso natural e despertamos daquela experiência mágica. O que sentiste minha flor, pergunto-lhe ao abrir os olhos. Senti-te a ti!
A vida tem significado pelas breves subtilezas do momento presente. Que as vivamos sempre intensamente.
Abraço-vos com Amor.
Sem Comentários