Há tempos tropecei num desafio lançado para quem o quisesse apanhar, de refletir sobre o que é Habitar o Corpo. O repto ficou a pairar na leveza de um sopro, que me acariciou a pele, eu agarrei-o e puxei-o para bem perto de mim, para junto do meu coração.
Foi com emoção [não devemos ter pudor de mostrar as nossas emoções] que o meu coração se abriu a este sentir… Habitar o Corpo! Faz-me regressar à criança que, afinal, ainda sou, trazendo-me à memória que andei grande parte da minha vida a arrastar o corpo como se fosse um pesado fardo.
Neste momento, não consigo travar o ténue sorriso que se forma no meu coração e se expande para a minha face. Como foi possível que tal tivesse acontecido, viver sentindo o corpo como uma carga distante de mim própria?
Numa pressa de avaliar e criar juízos de valor, que a vida moderna nos traz, deixamos de observar e sentir a vida, perdendo a visão neutra e firme que nos permite saborear o momento presente, sem julgamentos.
A energia da primavera vibra em todas as células do meu Ser, toca-me nas profundezas e permite-me renascer a cada ano. Hoje, sinto o Sol a acariciar a minha pele, suavemente, apenas fazendo-me sentir a sua presença, como quem diz, estou aqui para ti. Sinto o Vento a afagar-me os cabelos, que dançam livremente.
Sinto o aroma doce das flores da laranjeira. Fecho os olhos e sinto. Estou presente. Sinto o vigor da vida que brota de cada árvore, de cada folha, de cada flor que se abre ao mundo.
Tantas vezes me dou conta, de que nesta vida moderna e evoluída, vivemos desconectados do corpo, alheados da sua existência, esquecendo que ele nos transporta nesta vida. Para mim, a descoberta do corpo foi acontecendo devagar. Chegou de mansinho, como o Sol numa madrugada nublada.
Gosto de pensar na magia do meu corpo, deste veículo maravilhoso que me permite andar, crescer, pensar… que me permite descobrir e viver! Gosto de pensar no milagre que é a minha respiração.
Na correria da vida, acabamos por esquecer a nossa essência. Não há tempo para parar, não há lugar para sentir. A urgência do fazer sobrepõe-se ao prazer de Ser.
Vamos deambulando pelas nossas vidas sem provar o seu sabor. Neste instante, onde não há tempo de sentir, até já esquecemos o sabor salgado das lágrimas que já não correm nas nossas faces. A nossa alma está ressequida!
A forma como respiramos influencia todo o nosso organismo e tem uma relação fundamental com o nosso estado emocional. Quando penso na respiração gosto de imaginar que ela é uma ferramenta extraordinária que eu posso utilizar a cada momento para o meu bem-estar. Ela está sempre comigo e eu tenho o PODER de a moldar de acordo com as minhas necessidades a cada MOMENTO.
E neste momento, em que nos retiramos das nossas antigas rotinas e estamos em busca de novas, proponho que a respiração consciente possa fazer parte destas novas rotinas da vida das vossas famílias.