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Quando o corpo diz sim

Eram dias de um Verão encolhido, tímido, com mais ares de Outono do que propriamente da estação dos frutos e das colheitas. Mas a vida vai-nos ensinando a aproveitar o que nos é dado, apreciando cada momento, sem expectativas. Assim foi, não havia o calor esperado e devo confessar muito desejado, mas havia a energia da família e dos sorrisos partilhados.

Ainda assim, aquela sensação de Outono fora de tempo prendia a minha atenção, e com trejeitos de Velho do Restelo (do nosso grandioso Camões), trazia-me pensamentos cinzentos de uma derrota anunciada. Será que o brilho do Verão chegaria a tocar a minha pele?

Depois lembrei-me das estações bem definidas da infância, do calor do Verão escaldante da aldeia transmontana, dos banhos aventureiros no tanque de lavar a roupa na casa da avó. Era preciso grande mestria para permanecer em equilíbrio, em contacto com a superfície escorregadia, que indicava o passar do tempo, do piso do interior do tanque.

Mais outro pensamento me alcançou a alma, lembrando a destreza e ligeireza da infância, daquele corpo esguio, repleto de vitalidade, energia e perícia. Naquele tempo os sonhos eram possibilidades, não utopias. Naquele tempo, o tempo não existia, apenas gargalhadas, aventuras, o calor abrasador do sol, o brilho do céu estrelado (não há céu como aquele).

O corpo.

O corpo que me levava onde a alma sonhava. O corpo que foi ganhando forma e perdendo a vitalidade, foi, contraditoriamente, crescendo e secando. Hoje tenho clareza, desta construção mental que criei, inconscientemente, do meu corpo e de como ele tão servilmente me deu o que moldei.

Um corpo frágil.

Nesta fragilidade cresci, tornei-me mulher e vivi num eterno Outono, onde as árvores perdem as suas folhas, onde os frutos não colhidos perdem o seu suco vital e murcham. Os dias de Verão com cheiro a Outono levaram-me à lembrança desta fragilidade do meu corpo, mas num lugar diferente.

Talvez pelo despertar que a minha alma ansiava, voltei à criança, é ela que me enraiza, é a ela que regresso para recordar a sabedoria de viver plena em mim. Olhei o céu encoberto pela neblina, gotículas suaves e invisíveis acariciavam a minha pele, trazendo-me ao momento presente, momento em que o meu corpo sussurra ao ouvido da minha alma um sonoro SIM!

Sim, agora vivemos em harmonia.

Sim, agora vivemos de novo com vitalidade, energia e perícia.

Ao som dos risos familiares dos seres que conduzi a este mundo, dos que me conduziram a este mundo e ainda do ser com quem escolhi partilhar caminho, ao som ritmado dos seus risos, dos vazios das suas vozes, da troca de olhares cúmplices, aqui, neste lugar cujo brilho toca a minha pele arrepiada, apesar do Outono fora de tempo, aqui, neste lugar que relembra o Verão desejado, aqui, recuperei o sentir do meu corpo em pleno, repleto de vida.

Aqui, senti a força deste corpo que hoje segue o apelo da alma e não a forma artificialmente moldada pela mente.

Aqui, o meu corpo diz SIM.

Aqui, reencontro-me feliz, leve, abraçando-me com toda a minha alma, esta que me diz: “Chegaste de novo a casa. Bem-vinda!”

Que todos os seres se permitam viver plenos na sua alma, sem as amarras da mente controladora e sufocante. Que todos os seres possam viver livres, leves, em amor.

Abraço-te com a minha alma.

heart
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