
Mulher Mar
Escuto a larga vastidão do oceano que se dispersa no horizonte. O meu corpo descansa, sentado, na cadeira de baloiço, que me embala ao ritmo das ondas do mar que vão e vêm. Sou presente naquele momento, que abraça todos os outros instantes, sussurrados à ligeireza do vento. Permaneço, contemplando a extensão de água profunda que observo do alpendre.
O sol toca a minha pele, sinto a sua força, impulso de Verão pleno. A robustez de fazer-se presente de ciclo em ciclo. Delicio-me com a sensação deste Sol a acariciar-me as mãos. As minhas mãos, enrugadas, contando as histórias de vida.
Fecho os olhos por um instante, pareceu-me um breve momento, mas talvez tenha sido uma eternidade. Quem sabe!? Aquelas mãos, as minhas mãos, suavemente a suster a leveza das mãos do ser sagrado que me fez mãe. Sinto a magia desse instante, dessa vibração, dessa confiança da plenitude da criação divina.
As minhas mãos, sinto a sua miudeza e fragilidade, sendo amparadas por quem também, na sua vez, me conduziu a este mundo. Sinto a coragem e a mestria dos meus guias terrenos, com tanta clareza, como sinto a sua vulnerabilidade, numa grandeza de Ser que sabiamente me souberam transmitir.
Sinto nas minhas mãos a liberdade de viver, a purificação de cada escolha, o toque frio da areia molhada, os dedos que adentram nas profundezas da vida. Abro os olhos e sinto as mãos da minha alma companheira, também elas enrugadas, contando as suas próprias histórias, algumas ainda cruzando as minhas.
O vento sopra, uma brisa de vitalidade agita os meus longos cabelos brancos, também eles com a sua narrativa. Entrego-me a esta liberdade que o sopro transporta. E deixo-me ficar a contemplar a vastidão do mar, de corpo sentado, descansando, Mulher Mar, plena de vida e completude.
Abraço-te com Amor.
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