Hoje lembrei-me dos meus tempos de criança. É frequentemente recordar essa criança que ainda sou, gosto do conforto das memórias que guardo no coração.

Lá estou eu, empoleirada naquela majestosa árvore, que se encontra no centro do jardim do Castelo, a contemplar o rio. O tempo das árvores mede-se de outra forma. Aos meus olhos esta árvore sempre ocupou aquele lugar, desde a criação do Mundo. É intemporal, misteriosa e imponente.

Cada vez que eu vou àquele jardim lá está ela serenamente à minha espera, com as suas raízes cheias de vida que brotam para lá da terra, num enleio que me leva a viajar para outros mundos. O seu tronco abre-se para me abraçar servindo-me de abrigo.

Hoje lembrei-me dessa árvore, que afinal não era intemporal e já partiu, dando lugar a outra vida. É fascinante a magia da transformação e do amor puro que tão plenamente podemos observar na natureza. Toda a energia de uma árvore é distribuída pelas suas companheiras antes do seu fim de ciclo… Já dizia Lavoisier…

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”

Há sempre uma árvore que acompanha as minhas memórias de criança, como se elas fossem as guardiãs da minha alma. E fico a pensar, se será por sentir esse pulsar de vida incessante que existe nas florestas, que eu me vejo tão ligada às árvores.

Sinto o mistério da floresta, como se todas as árvores se unissem num campo invisível para me receber. Sabe a casa! Naquela sensação de conforto, de aconchego do colo da Mãe, da mãe Natureza.

A floresta comunica com todos os meus sentidos. E surpreende a minha mente. Mergulho nela e deixo-me levar numa viagem de exploração do meu sentir, e cada ponto cardeal desperta em mim sensações diferentes.

Hoje a floresta oferece-me, a Oeste a brisa salgada do mar, a Norte o suave aroma da terra molhada, a Este a doce fragrância da alfazema selvagem e a Sul a carícia do perfume da camomila.

Sinto as cores, o chão macio, os verdes que contrastam com os castanhos, nova vida a brotar timidamente por baixo do leve manto de folhas.

Hoje fui à descoberta do sentir da floresta e a paz apoderou-se da minha essência, o meu corpo abraça a tranquilidade de Ser e paira no vazio que tudo contém.

A floresta está em mim e eu estou na floresta!

Abraço-a com Amor.